Quando a nova marca da DC Comics foi apresentada, eu tive uma daquelas típicas reações inerentes a qualquer criativo que se preze: in-ve-ja.
QUAL O LIMITE DO PLÁGIO?
Achei o trabalho simplesmente sensacional, uma marca multiplataforma, cheia de nuances e possibilidades gráficas, enfim, um trabalho admirável, e olha que para um criativo admitir isso, é uma tarefa um tanto quanto complexa, rerere…
Bem, colocando isso na mesa, logo de cara deixo claro a minha simpatia pelo case, o que não me impediu de fazer uma pesquisa informal, para saber mais a respeito da repercussão desta nova marca.
Percebi que não agradou a muita gente na época, mas acredito que muito dessa sensação negativa tenha sido a ver com o conservadorismo do pessoal “Old School” (grupo no qual me insiro), mas pouco a pouco esta barreira será quebrada. Motivos não faltam para isso e abaixo listo alguns:
Modernidade
Em época de tablets, iPhone barato, notebooks e outros tantos gadgets que facilitam muito as novas aplicações gráficas, ficar apegado a uma estética baseada em brasões, selos ou escudos num universo que não é “retrô”, acho burrice.
A Landor Associates, que foi a consultoria de marca responsável pelo case na época, obviamente percebeu isso lá atrás, tanto que já vinha trabalhando neste projeto há algum tempo, pautando-o fortemente em um visual moderno, jovem e claro, bastante camaleônico.
Aos que sentem falta da identidade calcada em selos, brasões, carimbos, escudos e afins, deixo claro que não estou condenando o seu uso, mas sim, tentando mostrar que podemos evoluir, olhar para outras estéticas e inseri-las no cotidiano de segmentos que anteriormente sequer cogitava isso, obtendo resultados muito interessantes e rompendo com velhos paradigmas, o que sempre nos leva a evoluir.
Dinamismo
A vivacidade e versatilidade que a nova marca transmite salta aos olhos, ao descortinar a letra “D” para cada nova revelação aplicada na letra “C” a marca remonta a sua identidade a cada exposição, sempre diferente, sempre viva, sempre adequada ao seu meio.
O jogo da identidade secreta dos seus personagens contribui de maneira essencial para que o DNA da nova marca seja forte e reflita além da sua rica e respeitável história, também o seu posicionamento futuro, suas metas, e os caminhos que espera percorrer para conquistar esta nova geração de leitores, certamente mais informada, atenta, crítica e exigente. É claro nas suas aplicações o quão dinâmica e versátil é a nova marca, e sem dúvidas, esta é uma arma clara e eficiente para estabelecer um novo ponto de diálogo entre a DC Comics e o público.
Coragem
Mudar é sempre um dilema. Até onde ir, o medo de perder o terreno já conquistado, enfim, um inferno. Um bom diagnóstico, aliado a uma boa gestão de marketing e uma boa consultoria de marca geralmente minimizam e muito estes dilemas.
A DC Comics se cercou destes itens e certamente colherá ótimos frutos no futuro, mas só ele irá dizer isso, infelizmente preso aqui no presente eu só posso opinar e torcer. Admiro empresas com coragem verdadeira para encarar desafios desta forma, sem ficar no meio do caminho, fazer as coisas pela metade, ou remendar e desfigurar toda uma história de marca para ao final do processo, obterem um resultado medíocre.
Aqui a DC “peitou” a inovação, certamente deixou livres os criativos da Landor, que por sua vez, vestiram a camisa da DC e conseguiram um resultado de marca surpreendente.
Visual
Essa junção do efeito flipboard da letra “D” a um conjunto sempre multicolorido, tecnológico, vibrante no fundo, trás para a marca uma potência visual que pouco se vê por aí. Suas escolhas foram bem ajustadas e mesmo quando aplicadas sobre fundos multicoloridos ou repletos de elementos, ainda assim se sai bem.
O capricho e o cuidado com as cenas de fundo como a fumaça branca, as faíscas, a luz verde, o concreto, enfim, todas elas, é percebido desde o primeiro momento. Ponto para quem concebeu e ponto extra para quem zelou por tudo isso.
Pérolas
Ainda na pesquisa que fiz, encontrei alguns pontos de vista engraçados, exóticos e peculiares. Vou citar apenas alguns aqui, para perceberem o quão nevrálgico é o assunto, e contra que tipo de argumentações luto diariamente:
– Parece um copo de iogurte visto de cima!
– Parece uma latinha de cerveja vista de cima!
– Parece um pote de margarina sendo aberto!
– Parece um grande vaso sanitário com uma tampa de borracha por cima!
Viram o que eu disse?
Se falam isso de uma projeto criado pela maior consultoria de marcas do mundo, que levou mais de um ano para ser concluído, que mobilizou qualificados profissionais mundo afora e que envolveu uma enorme verba para concepção e divulgação, o que não diriam de uma marca sem todo este “pedigree”?
Plágio
Paira sobre este case uma suspeita de plágio, pois existe de fato um trabalho de conceito e execução bastante semelhantes, que é do Discovery History UK. Guardadas todas as distâncias, eu gosto dos dois, ambos são ótimos no que se propõem, obviamente bebem na mesma fonte, o “descortinar de uma página” que revela algo.
Um neutraliza o primeiro plano (DC) e guarda o impacto para o segundo, que são as aplicações gráficas no fundo. O outro (Discovery History) inverte essa ordem, escancara fatos históricos no seu primeiro plano e no segundo, fecha com a sua cor de identidade, como que assinando cromaticamente o seu conteúdo.
Um “flipa” da esquerda para a direita de forma ascendente, outro da direita para a esquerda de forma descendente, ambos possuem a letra “D” como primeiro elemento, enfim, o assunto dá muita discussão e opiniões sempre são bem-vindas.
O fato é que as duas marcas bebem da mesma fonte, e isso quase sempre põe a perder ambas, quase sempre. Aqui não acho que se perderam não, acho que ambas nos ensinam e cabe a nós tirar delas as melhores lições. É isso.
Para os interessados algumas referências:
http://www.dccomics.com/
http://www.discoveryuk.com/
http://www.behance.net/gallery/Discovery-History-brand/1161643
http://bpando.org/tag/landor/
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